Seja bem-vindo
Brasília,17/07/2025

  • A +
  • A -

Francisco Salles

A “Guerra dos 12 Dias” e o Cessar-Fogo de Trump – Uma Paz de Fachada?

Trump anuncia cessar-fogo que mais parece teatro, enquanto ataques continuam no Oriente Médio.

Imagem: Reprodução / Fonte desconhecida
A “Guerra dos 12 Dias” e o Cessar-Fogo de Trump – Uma Paz de Fachada? Donald Trump, visivelmente irritado

Donald Trump, com seu teatro habitual, anunciou no dia 23 de junho de 2025, em seu palco predileto — o Truth Social — aquilo que chamou de “cessar-fogo completo e total” entre Israel e Irã. Batizou o conflito de “Guerra dos 12 Dias”, como se estivesse nomeando uma peça da Broadway. Enalteceu a “coragem, stamina e inteligência” dos envolvidos, num espetáculo de autocondecoração. Mas a realidade geopolítica não é showbusiness — e o que se viu no Oriente Médio parece mais um casamento forçado do que um pacto de paz legítimo.

A guerra teve início em 13 de junho, quando Israel lançou ataques contra instalações nucleares iranianas, alegando riscos à segurança nacional. O Irã respondeu com o lançamento de mísseis e drones. No dia 21, os Estados Unidos realizaram bombardeios a três sítios nucleares no Irã. Em seguida, o Irã atacou a base americana de Al Udeid, no Qatar. Trump classificou o ataque como “fraco” e “previsto”. Como quem diz: foi só encenação para não perder a pose.

O roteiro hollywoodiano de Trump tenta pintar sua diplomacia como decisiva. Segundo ele, “trabalhou incessantemente ao telefone” com o emir do Qatar e o vice-presidente JD Vance. A imagem que procura vender é a de maestro de um cessar-fogo histórico. Mas há um problema fundamental: ninguém parece ter combinado o jogo com os envolvidos. O Irã negou qualquer acordo formal e condicionou a suspensão de suas operações à reciprocidade israelense. Israel, por sua vez, acusou Teerã de violar o pacto logo após o prazo. Teerã negou os lançamentos. A troca de acusações continuou como se o tal cessar-fogo jamais tivesse existido.

A cronologia proposta por Trump é uma piada diplomática: o Irã cessaria fogo à meia-noite (EDT), Israel somente 12 horas depois, e após 24 horas tudo estaria resolvido. Parece enredo de filme classe B — não um plano com legitimidade internacional. Nos bastidores, os combates persistiram. Mísseis iranianos atingiram Beersheba, matando quatro pessoas, enquanto Israel bombardeava alvos em Teerã. Trump, visivelmente irritado, mandou um recado duro a ambos os lados, pedindo que “não soltassem aquelas bombas”. Um apelo tão ingênuo quanto inútil.

Esse cessar-fogo parece mais um teatro diplomático para alimentar o ego de Trump do que uma construção sólida de paz. Sem garantias formais, sem supervisão internacional, e com ataques em curso, o que há de “completo e total” nisso? A ausência de transparência quanto aos termos, somada à continuidade das hostilidades, revela a fragilidade — ou mesmo a inexistência — de qualquer verdadeiro acordo.

Mais preocupante ainda é o precedente: a entrada dos EUA em um conflito armado internacional sem qualquer consulta ao Congresso. Um atropelo constitucional que reacende o debate sobre os limites do poder executivo americano. Trump agiu como comandante-em-chefe de um reality show, não como um estadista.

A “Guerra dos 12 Dias” pode ter sido breve no relógio, mas suas cicatrizes tendem a durar. Instalações nucleares destruídas, milhares de pessoas deslocadas, civis mortos em ambos os lados — tudo isso embalado com um selo de “paz” que só existe no feed do presidente.

Trump cunhou um nome para a guerra. Mas será a História quem dirá se ele cunhou também a farsa mais descarada da diplomacia moderna.



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.